A vida na universidade é alegria garantida e quase todos se dão bem. Outros, melhor ainda. Há os momentos de se lucrar por aprender e compartilhar o que foi aprendido, com a emulação de tantas vocações e talentos. Por outro lado, viver na maioria das repúblicas, por exemplo, é uma festa sempre animada e eterna. Os poucos intervalos são permeados por uma coisa chamada estudo. Um grupo bem menor procura se manter à parte, aproveitando quando acha razoável, mas também se esforçando para dar continuidade ao aprendizado que o levou a passar no vestibular. Há ainda os benefícios, aproveitados pela casta nobre que se reveza na direção, que advém de se ter recursos públicos à mão para gastá-los com “autonomia”, o que nem sempre dá os melhores resultados ou que mesmo incorre em desvios. Mas que é deles.
Seja por um período de graduação de 4 ou 5 anos ou numa carreira acadêmica inteira, as oportunidades sempre são muito ricas nesse ambiente. Os espíritos podem ser enriquecidos pelo saber, pela disseminação de conhecimentos e pelo aumento e sistematização dos conteúdos científicos que são ali trabalhados. Mas há também as enormes possibilidades de se festejar a vida, de se consumir o tempo na fruição desenfreada de festas e farras. Há espaço ainda para rechear os bolsos ou pelo menos tirar uma casquinha aqui e ali do dinheiro que está à disposição.
Os aspectos positivos do ambiente são inolvidáveis. O clima é propício, com alguma disciplina, para que realmente se obtenha desenvolvimento intelectual. Seja absorvendo conhecimento ou disseminando o que foi aprendido o ser humano vai se enriquecendo e melhorando o mundo em que se vive. Às vezes os resultados não aparecem tão rapidamente, o que não quer dizer que não se esteja verdadeiramente tentando. Alunos e mestres se misturam nessas tarefas que enriquecem a vida de todos. Há espaço, quando bem utilizado, para o desenvolvimento dos talentos e vocações e o incremento dos conteúdos científicos de cada área.
Mas há também alguns pontos fracos. Há uma turminha boa que leva a vida na farra. Passar no vestibular é ser admitido a uma festa sem fim. Bebida, bebida e mais bebida embalam a vida na maioria das repúblicas. Estudar parece ser considerado uma atividade menor e que, ao que parece, não é muito incentivada. Dias de semana, feriados, datas importantes, festas de final de ano – apesar dos que vão para casa – são sempre oportunidades para se queimar mais um pouco de carne – fazer churrasco - e esvaziar as geladeiras que estavam cheias de cerveja.
A grande maioria dos alunos passa por essa fase e segue em frente, com uma boa quantidade de neurônios a menos, mas ainda capazes de se tornarem cidadãos úteis à sociedade. As poucas ocorrências negativas conhecidas - as mortes devido aos excessos, por exemplo não esboçam de maneira significativa o nível de risco contínuo provocado pelas farras intermináveis. As notícias ruins são muito poucas em vista da quantidade em que poderiam acontecer. Principalmente se considerado o volume de risco assumido pelas bebedeiras.
Entre os estudantes é comum o puro pragmatismo em relação aos estudos. Algumas vezes por ser o que dão conta de fazer pela limitação mental. Outras por preferirem gastar a maior parte do tempo com diversão e outras distrações. Agem nesse sentido as condições físicas e mentais, bem como as ambientais. além da cultura a que o adolescente foi submetido eu seu ambiente de origem. Essas condicionantes não lhe permitem uma valorização da vivência acadêmica em que ele utilizasse todo o esforço que seria capaz de fazer. Reduzidas ficam também as possibilidades de se obter todo o sucesso possível que poderiam obter em situações ideais de esforço e dedicação. Acaba que esse é um aspecto positivo por favorecer ainda mais o sucesso daqueles que se dedicam com mais afinco.
Aspecto interessante e menos conhecido do grande público é o uso da máquina pública em benefício próprio. Só uma parcela, bem pequena, se apercebe das verdadeiras necessidades do outro e vive a vida acadêmica com interesse de ensinar e trabalhar de verdade. Os bons objetivos não importam para muita gente. Como em um microcosmo, como uma representação de uma unidade política maior como cidades ou estados, as pessoas bem intencionadas não são, geralmente, as que obtém mais sucesso. Os conchavos políticos e as armações costumam ser até piores que os ocorridos nas gestões municipais, por exemplo.
Os projetos inúteis garantem uma renda extra em muitos casos. Trata-se de sobrevivência e tentativa de melhorar os parcos ganhos. Textos e mais textos são produzidos sobre o mesmo assunto e “reciclados” quando necessário e de acordo com as prioridades do momento. Conhecimento novo, quando gerado, é caso de surpresa. Gerações e mais gerações de mestres e alunos se revezam a produzir os mesmo assuntos e revê-los sem acrescentar novidades – ou pelo menos sem destacá-las - ou muito menos sem se preocupar com a possível utilidade prática de tudo que está sendo visto (aqui uma ressalva para a necessidade reconhecida de que se produza ciência pura em alguns raros casos). O retorno do valor investido pelo cidadão no caso das entidades públicas não é nem uma das metas principais. O principal, com raras e honrosas exceções é se dar bem no jogo de vaidade e ajudar os amigos. Admissões são feitas de maneira confusa e os julgamentos, muito pessoais, não são claros nem objetivos nem muito menos transparentes.
Em todos esses casos as exceções sustentam o processo e são sustentadas por eles. Não houvesse os alunos sem compromisso e os conscientes teriam que estudar muito mais para se dar bem. Os profissionais vaidosos que procuram alimentar o ego com o reconhecimento público também têm o seu valor. Sem eles, os mais tímidos e compromissados com os resultados não teriam estímulo para mostrarem seu trabalho. Isto por que o volume de produção científica e cultural seria reduzido e ocorreriam menos eventos como seminários, cursos e etc. Infelizmente, é inerente ao ser humano que seja necessária muita produção de textos para que de uma massa enorme se possa apurar algo de bom. Aliás ciência é isso, segundo já foi dito: mais transpiração que inspiração.
De qualquer maneira o que prevalece é a diversidade de objetivos e formas como se leva a vida no campus e no seu entorno. A brincadeira desarvorada, inconsequente e viciada de uma boa parte dos alunos é um dos mundos paralelos que convivem juntos e de forma cúmplice. Ali bem ao lado, procurando-se muito, há que se encontrar alunos conscientes cujo comportamento será, em geral, o responsáveis pelos bons resultados que terão no futuro. Entre os profissionais a seriedade com a busca de resultados se mistura com a sobrevivência e faz com que alguma coisa seja produzida de novo, a muito custo. Não se pode esquecer dos manipuladores do patrimônio que, com poucas exceções são os que reinam sobre o dinheiro da entidade da forma que acham melhor mas também são os que fazem com que tudo funcione. As exceções aqui, além de confirmarem as regras, ainda são sustentadas por elas, ao longo de anos e anos e anos.
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